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Dica do Guilherme...Capitães de Areia

Foto do escritor: ligapsisocial9ligapsisocial9


“Ficavam todos juntos, inquietos, mais sós, todavia, sentindo que lhes faltava algo, não apenas uma cama quente num quarto coberto, mas também doces palavras de mãe ou de irmã que fizessem o temor desaparecer”.


“Nunca tivera uma alegria de criança. Se fizera homem antes dos dez anos para lutar pela mais miserável das vidas: a vida de criança abandonada. Nunca conseguira amar a ninguém, a não ser a este cachorro que o segue. Quando os corações das demais crianças ainda estão puros de sentimentos, o do Sem-Pernas já estava cheio de ódio. Odiava a cidade, a vida, os homens. Amava unicamente o seu ódio, sentimento que o fazia forte e corajoso apesar do defeito físico.”


Em 1937 foi lançado o romance “Capitães de Areia” do escritor Jorge Amado mostra a vida de um grupo de crianças que vivem pelas ruas de Salvador e precisam roubar para sobreviver, lideradas pelo personagem Pedro Bala. Ainda no ano de lançamento centenas de unidades do livro "Capitães da Areia" foram queimados por ordens da ditadura do Estado Novo. O livro foi acusado de conter propaganda comunista e de ser nociva. Capitães da areia é uma narrativa bem crítica na qual Jorge Amado denuncia, os males de uma sociedade que, sendo marcada pela lógica do capital, vira as costas para aqueles menos afortunados. Jorge Amado com essa obra não somente narra as aventuras de meninos de rua lutando pela sobrevivência, também escancara feridas de um sistema econômico/político/social problemático.

Os garotos sobrevivem a partir de furtos que cometem na cidade. Após cada dia, retornam para o lugar onde vivem: um grande galpão abandonado que fica próximo à praia, o trapiche. Após a introdução dos principais personagens da história inicia-se a narrativa que gira em torno das peripécias desse grupo que sobrevive basicamente de furtos. Porém, apesar de certa linearidade, a história é contada em função dos destinos de cada integrante do grupo, seu destino e como foi abandonado e passou a morar no trapiche, o livro além de abordar os crimes cometidos por tais crianças, irá abordar a relação deles com os diferentes adultos da trama – aqueles que os abandonaram, os que os perseguem, e os que ignoram suas existências - , o romance também discute questões de saúde pública e atendimento à população marginalizada (Salvador passava por um surto de Varíola) e diversos problemas sociais enfrentados pelas crianças em situação de abandono como violência, criminalidade e prostituição

O romance é um belo trabalho etnográfico que permitiu dar vozes a grupos historicamente silenciados, para escrever o livro o autor chegou a morar com aquelas crianças.

Recomendo a leitura e discussão desse livro que já possui 85 anos de história e ainda segue atual, é visível a semelhança entre as reportagens que atacavam os capitães de areia em Salvador e a “gangue das crianças da Paulista” em 2022, décadas se passaram, mas a criança abandonada em situação de rua é vista somente como um marginal, sem subjetividade e sem voz.

Textos consultados:

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/04/o-que-escondem-as-fotos-da-batida-policial-contra-criancas-na-paulista.shtml

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/04/policia-apreende-criancas-e-adolescentes-suspeitos-de-integrar-gangue-que-age-na-paulista.shtml

Autor do texto:

Guilherme Oliveira Ribeiro



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