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Como a Psicologia pode atuar junto aos povos indígenas?

Foto do escritor: ligapsisocial9ligapsisocial9



Dados do Censo Demográfico de 2022 apontam que o Brasil tem 1,7 milhão de pessoas indígenas, o que corresponde a 0.83% da população do país. Mesmo com a maior concentração nas regiões Norte e Nordeste, há indígenas em todas as regiões e estados brasileiros vivendo em 573 terras oficialmente delimitadas pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI).


Entretanto, 63% da população indígena vive fora das áreas demarcadas (IBGE, 2022), o que já evidencia a principal luta dessas populações, ou seja, a consolidação do direito presente na Constituição federal de 1988 dos povos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Além disso, de acordo com o Artigo 231 do mesmo documento, também é dever da União reconhecer a organização social, os costumes, as línguas, as crenças e as tradições dessas populações, assim como proteger e respeitar todos os seus bens.


Apesar de terem seus direitos reconhecidos na lei fundamental e suprema do Brasil, os povos indígenas ainda são desrespeitados e ignorados pelas forças do Estado. De acordo com o Fundo Brasil, além da luta por demarcação, os povos indígenas também enfrentam nos dias atuais problemas com racismo, violação aos direitos das mulheres, alimentação escassa e pobre em nutriente, falta de acesso aos serviços públicos e à saúde.


Um importante ponto a se considerar quando pensamos na saúde dos povos indígenas consiste no fato de que tal população possui as suas próprias e diversas concepções de produção de saúde e adoecimento (BERNI, 2017). Desse modo, o caminho para refletir sobre a pergunta “Como a Psicologia pode atuar junto aos povos indígenas?”, deve ter como princípio a necessidade de escuta dos povos originários, o que inclui a percepção dos modos indígenas de ser, viver, pensar e agir, as medicinas tradicionais e as cosmologias.


O documento “Referências Técnicas para atuação de psicólogas(os) junto aos povos indígenas” (2022) do Conselho Federal de Psicologia (CFP), aponta a necessidade da Psicologia com suas concepções epistemológicas de se reinventar, isto é, a Psicologia precisa ser descolonizada através da superação da perspectiva eurocêntrica, supremacista branca e cisnormativa. Somente assim, será possível uma escuta de fato inclusiva, que seja sensível às diferenças e com base no respeito às especificidades culturais (CRPRS, 2018).


Além disso, não se pode esquecer do compromisso da Psicologia com o social, a luta pela garantia de direitos e pela equidade é um compromisso ético-político que fundamenta a profissão. Sendo assim, é dever da profissão se comprometer com a luta dos povos indígenas. Mas será que isso é possível sem uma formação que contemple minimamente toda a diversidade desses povos?


Para a psicóloga indígena do Povo Xerente Thaynara Sipredi, a Psicologia precisa ter profissionais que estejam preparados para compreender as demandas dos povos originários que vivem nas aldeias ou nas cidades, mas para isso é necessário que ocorra uma mudança na formação dos psicólogos (CRP RS, 2018). Tal mudança compreende uma reestruturação nos currículos e também a inserção de pessoas indígenas nos espaços da Psicologia, como professores e integrantes do conselhos.


Não se pode desconsiderar a relação direta entre a formação da subjetividade humana e a cultura. Desse modo, cabe à Psicologia respeitar e considerar os saberes tradicionais em sua prática, assim como reconhecer a história de violência que os povos indígenas foram submetidos desde o processo de invasão pelos europeus.


Pensar na saúde mental da população indígena é entender que tal conceito engloba a relação de aspectos mais amplos de saúde, como o corpo, a mente, a espiritualidade e o território. Nesse sentido, a integralidade dos sujeitos deve estar em diálogo coletivo com os saberes, práticas e cosmovisões dos povos indígenas (CRPRS, 2018).


A sabedoria dos povos indígenas é ancestral, já a lei que regulamenta a profissão de psicólogo no Brasil é de 1962. Conforme salienta Berni (2017), a aproximação da Psicologia com as populações indígenas é muito recente, o que implica num fazer que ainda está sendo construído. Nesse sentido, cabe refletirmos não somente em como a Psicologia pode atuar junto aos povos indígenas, mas também sobre o que a Psicologia tem a aprender com os povos indígenas.



REFERÊNCIAS




BERNI, Luiz Eduardo Valiengo. Psicologia e saude mental indígena: Um panorama para construção de políticas públicas. Psicol. Am. Lat., México , n. spe, p. 64-81, nov. 2017 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2017000200006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 26 ago. 2023


Conselho Federal de Psicologia (Brasil) Referências Técnicas para atuação de psicólogas(os) junto aos povos indígenas / Conselho Federal de Psicologia, Conselhos Regionais de Psicologia, Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Pública. — 1. ed. — Brasília : CFP, 2O22.



Artigo: Aline Garmes

Publicado: Fanie Amaral

Revisão: Daniela Ramela Gama

Imagem: Internet


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