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Atribuir um sentido comum ao que representa o trabalho na sociedade contemporânea é um dilema. Há quem diga que assim como na epistemologia da palavra, trabalho está relacionado a algo penoso, instrumento de tortura, que provoca mal-estar. Outros, dirão que o trabalho é o que provoca a transformação da realidade, expressão de criatividade, auto realização. Não podemos dizer que uma ou outra leitura do que representa trabalho está errada, ambas farão sentido a depender de que ponto do prisma social estamos observando.
Conseguir atribuir um sentido à atividade laboral exercida está entre os principais fatores que determinam o impacto subjetivo que o trabalho tem na vida pessoal dos indivíduos. Conforme mencionado por NASCIMENTO (2022), o trabalho relaciona-se diretamente com as noções de identidade e dignidade do sujeito.
Na sociedade em que vivemos, o trabalho que exercemos está diretamente relacionado ao valor que temos para os grupos que estamos inseridos, conferindo mais status social aos trabalhos intelectualizados e para aqueles que exercem os trabalhos braçais resta a desvalorização e invisibilidade. Nesse segundo grupo encontra-se a maior parte dos trabalhadores de rua como ambulantes, camelôs, trabalhadores de limpeza, motoboys de aplicativo, etc.
Segundo Nascimento (2022), são características dos trabalhadores invisibilizados geralmente uma baixa escolaridade e em consequência da desvalorização, a baixa remuneração.
Frequentemente relações de trabalho são causa de adoecimento psíquico, provocando estresse, ansiedade, burnout, depressão, entre outros (ARAÚJO, FREITAS 2022). Há quem defenda que nestes casos, o adoecimento está relacionado a baixa resiliência do funcionário, ou ainda a problemas pessoais enfrentados, buscando desvincular o papel significativo que o trabalho possui para a construção da identidade e o poder que possui de afetar a saúde física e mental dos trabalhadores. Porém, podemos encontrar estudos atuais que indicam que o trabalho está diretamente ligado à percepção do indivíduo sobre seu valor para a família, para a comunidade que está inserido, e que o adoecimento acontece muitas vezes em função da insegurança que está sujeito, ao medo de perder o emprego, ou ainda por suportar humilhações sem possuir alternativas que possibilitem sua emancipação.
Ademais, a lógica capitalista dependente que estamos inseridos na América Latina, onde vigora a superexploração dos trabalhadores, conforme indicado por Rezende e Mendes (2022), nos insere cada vez mais em um círculo vicioso de dominação, em uma dinâmica que cada vez que é atualizada, piores são as condições de trabalho, menos direitos e mais submissão são impostos, como pudemos observar na recente Reforma Trabalhista do Brasil que faz um movimento de retrocesso nos direitos que eram antes garantidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas.
Outro evento recente marcante no Brasil foi o movimento “breque dos apps” de 2020 que trouxe à tona uma discussão sobre as condições de trabalho de motoboys de aplicativo. Mascarada com o falso discurso de autonomia e empreendedorismo, que na realidade se traduz em sujeição às regras ditadas por grandes empresas que não se comprometem a disponibilizar minimamente nem os instrumentos ou condições para que o trabalho seja realizado.
Quanto ao papel da Psicologia, ao realizar uma busca em sites de publicação científica ficamos surpresos com a pouca disponibilidade de estudos sobre as condições de saúde mental dos grupos de trabalhadores mais desvalorizados e invisibilizados já citados neste texto. No âmbito da Psicologia do Trabalho é importante construirmos mais espaços para pensarmos e discutirmos, bem como produção de trabalhos onde o objeto de estudo seja este sofrimento provocado por más condições de trabalho imposta com mais intensidade a alguns grupos no Brasil, exercendo o dever de buscar as transformações nas camadas mais profundas daquilo que é raiz do sofrimento psíquico do ser humano.
Referências
ARAÚJO, Nathália Ferreira; FREITAS, Talita Maria Machado. Trabalho e adoecimento psíquico: uma revisão literária acerca da relação entre labor e processos de sofrimento no mundo corporativo. JNT- Facit Business and Technology Journal. out. 2022. Ed. 39 - Vol. 3. Págs. 378-398.
LECI DE SOUZA REZENDE, C.; MENDES, Áquilas . A exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo e sua relação com a saúde brasileira: uma revisão crítica à luz da literatura marxista. Crítica Revolucionária, [S. l.], v. 2, p. e007, 2022. DOI: 10.14295/2764-4979-RC_CR.v2-e007. Disponível em: https://criticarevolucionaria.com.br/revolucionaria/article/view/8. Acesso em: 26 mar. 2023.
NASCIMENTO, Jean C. P. A invisibilidade pública e social dos trabalhadores: uma revisão da literatura sobre trabalhos invisíveis na sociedade. Revista Ibero-Americana de Humanidades, São Paulo, v.8 n.12, dez. 2022.
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Artigo: Eduarda de Oliveira Correa
Publicado: Andréa Crispim Francisqueti
Revisão: Daniela Ramela Gama
Imagem: internet
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