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Consultório nas ruas: quais são as práticas do psicólogo com a população em situação de rua?

A existência de pessoas em situação de rua (PSRs) é um fenômeno social relacionado com a organização das cidades modernas, especialmente nas grandes metrópoles e com desigualdades historicamente construídas. No contexto de desigualdade da sociedade brasileira, a Psicologia tem atuado como um campo de saber-fazer conectado com os desafios dessa parcela invisibilizada da população, ainda que desafiada em sua forma tradicional de atuação. A população em situação de rua é composta por pessoas que enfrentam diversas adversidades e vivem à margem da sociedade, existe uma grande heterogeneidade de pessoas e de grupos que vivem nas ruas, tornando a compreensão desse fenômeno social ainda mais complexo, ademais, Varanda e Adorno (2004) indicam que, em perspectiva perversa de sociedade globalizada, as pessoas que estão em situação de rua estão colocadas em lugar de marginalidade, sendo negligenciadas em suas necessidades básicas e objetificadas como pessoas descartáveis.

Para esse grupo vulnerável, o acesso a cuidados de saúde mental é ainda mais limitado por inúmeros motivos, desde estigma social a ausência de documentos. Atualmente os principais serviços e voltados ao atendimento à população em situação de rua são os Serviços de Acolhimento em República, os Centro POP em municípios com mais de 250 mil habitantes, o Serviço Especializado de Abordagem Social, Consultório de Rua e também o CAPSad.

O Consultório na Rua tem a proposta de que se construa com os indivíduos a possibilidade que estes “saiam das ruas”.Essa atuação busca promover o desenvolvimento da autonomia dos indivíduos, isto é, fazer com que estas tornem-se mais independentes, conscientes de seus direitos e se reconheçam como cidadãos, sendo assim a atuação do psicólogo tem como objetivos principais a abordagem humanizada e acolhimento, acionamento da rede de apoio socioassistencial e também a prática de intervenções terapêuticas.


1.Abordagem humanizada e acolhimento:


No consultório de rua, o psicólogo adota uma abordagem humanizada, reconhecendo as dificuldades e as vivências específicas da população em situação de rua. O acolhimento é essencial para estabelecer uma relação de confiança e segurança entre o profissional e o paciente. O psicólogo busca compreender as histórias de vida, as experiências e as demandas individuais de cada pessoa, levando em consideração suas vivências únicas e as adversidades enfrentadas nas ruas.


2. Escuta ativa e acionamento das redes de apoio:


A escuta ativa é uma prática fundamental do psicólogo no consultório de rua. Por meio desse processo, o profissional oferece um espaço seguro para que os indivíduos possam expressar suas angústias, medos, frustrações e sonhos. A escuta atenta permite ao psicólogo compreender as necessidades emocionais e psicológicas dessas pessoas. Além disso, o psicólogo também tem o papel de acionar as redes de apoio disponíveis, como assistentes sociais, profissionais da saúde e instituições governamentais e não governamentais, para garantir um atendimento integral e multidisciplinar.


3. Intervenções terapêuticas e promoção da ressignificação:


O psicólogo utiliza diversas abordagens terapêuticas adaptadas às necessidades da população em situação de rua. Entre as técnicas mais comuns estão a terapia cognitivo-comportamental, a psicoterapia breve e a arteterapia. Através dessas intervenções, o psicólogo busca auxiliar na ressignificação das experiências traumáticas vividas pelos indivíduos em situação de rua, promovendo a reconstrução de suas identidades e estimulando o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais e cognitivas.

O consultório de rua representa uma importante iniciativa na área da psicologia, permitindo que os profissionais alcancem a população em situação de rua onde ela se encontra. As práticas adotadas pelos psicólogos nesse contexto têm um impacto significativo na vida dessas pessoas, oferecendo-lhes apoio emocional, escuta ativa e intervenções terapêuticas adequadas. Através do acolhimento e do respeito às singularidades de cada indivíduo, o psicólogo contribui para melhorar a qualidade de vida e promover a reintegração social da população em situação de rua. É fundamental valorizar e apoiar essas práticas, além de buscar políticas públicas que garantam o acesso universal aos cuidados de saúde mental para todos os cidadãos, independentemente de sua condição social.



A psicologia e a população em situação de rua : novas propostas, velhos desafios. Conselho Regional de Psicologia Minas Gerais (CRP-MG), organizador. -Belo Horizonte : CRP 04, 2015.87 p.

Varanda, W., & Adorno, R. C. F. (2004). Descartáveis urbanos: discutindo a complexidade da população de rua e o desafio para políticas de saúde. Saúde e Sociedade, 13(1), 56-69.



Artigo: Guilherme Oliveira Ribeiro

Publicado: Maíra Paschoal

Revisão: Daniela Ramela Gama

Imagem: internet


 
 
 

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