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Moradores de Rua e Pandemia: Mais no Menos.
“Se nesse mundo excludente, elitista, cheio de contrastes, você não tiver uma dose de rebeldia, é porque você se adaptou, se domesticou a esse modelo. ”
Padre Júlio Lancelotti
Sábado. 10h. Praça da Sé, São Paulo.
Ando em meio a uma multidão de pessoas, na maioria homens, espalhados pela praça, moradores de rua e pessoas em situação de rua, vulneráveis. Alguns transitam à procura de materiais recicláveis, bitucas de cigarros, a cabeça baixa e a esperança, ainda mais.
Chego ao meu destino: o número 47 da praça, onde se localiza a casa de passagem “Missão Belém”, instituição religiosa na qual abrigam por 24h, homens em situação de vulnerabilidade, em sua maioria, dependentes químicos e alcoolistas, que após esse período, são encaminhados para as casas da instituição, onde são acolhidos dentro da doutrina religiosa, caso queriam “mudar de vida”.
Mas volto minha atenção para todos os outros que estão perambulando pela cidade e percebo como essa população aumentou depois da pandemia.
Como característica dos moradores de rua podemos entender o não pertencimento a um local específico, que se deslocam pela cidade, às vezes com carrinhos para recolher recicláveis, o que dificulta a ida a albergues, pois nós mesmos não há estacionamento.
Números do último censo de 2021, mostram que 31.884 pessoas vivem em situação de rua em comparação com o censo de 2019, onde haviam 24.344, assim, podemos observar que houve um aumento de 7.540 pessoas, e em sua maioria, homens.
Esse aumento no número dessa população se deu devido à pandemia do COVID-19, e entre as causas que prevalecem dentro deste contexto para a ocorrência desse fenômeno, podemos considerar o desemprego, despejo da casa por conta dos problemas econômicos, rompimentos de vínculos familiares, problemas psíquicos, drogas, desigualdade social. E o que nota é o aumento de famílias inteiras que vivem nas ruas.
Políticas públicas partem da ideia que “sempre” o desejo dessas pessoas é terem uma casa, sem considerar muitas vezes a subjetividade desses indivíduos e suas culturas. E ainda, ocorrem ações higienistas por parte dos governantes, que servem para tirar essas pessoas dos “olhos da sociedade”, muitas vezes de forma desumana como jogar água e delimitar espaços nos quais oferecem o mínimo de abrigo e segurança.
Assim, podemos considerar que os espaços nos quais são considerados como públicos, não são igualitários, onde nota-se uma segregação, onde vemos pessoas em situação vulnerável que necessitam de apoio e suporte e que são muitas vezes invisíveis, mas que incomodam.
“Nos espaços públicos - uma rua, uma calçada, uma praça, um quiosque, um parque infantil, um parque, somos todos iguais, no sentido de que nesses locais todos podemos exercer o nosso direito comum à cidade sem ter que expor o nosso status social ou nossa capacidade de gastar dinheiro. Mas os espaços públicos também são a personificação da equidade, como expressão física do princípio de que é justo para todos os cidadãos usufruírem do acesso a equipamentos básicos e fundamentais, como recreação, diversão estética, caminhadas, ciclismo, lazer, esportes, cultura e informação." (Garau, 2014, p. 6).
Esperamos que haja efetivamente, uma ação de políticas públicas em que considere a esses moradores, uma vida digna na qual possa ter não só auxílios materiais, mas também garantia de assistência médica, psicológica, jurídica e econômica.
E mais do que isso, que tenha um acolhimento e olhar direcionado também a toda a sociedade, ao ser humano que está ali abandonado entre tantos outros, desistindo da busca de algo e muitas vezes, de si mesmo.
“ Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. ” (1988)
REFERÊNCIAS:
CENSO da população em situação de rua, Prefeitura de São Paulo, 2021
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, artigo 6º, Brasil, 1988.
GARAU, P. (2014). Public Space: a Strategy for Achieving the Equitable City. Peer Learning Exchange on Public Space: Durban. 24 p.
PACHECO, Julia Maria S., dissertação de mestrado. Univesidade de Coimbra. Portugal, 2021. http://hdl.handle.net/10316/99378
QUINTÃO, Paula R., Morar na rua: Fluxos e Fronteiras, http://pdf.blucher.com.br.s3east1.amazonaws.com/socialsciencesproceedings/iisbsbpsp/33.p
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Artigo: Andréia Fernandes Pinheiro Alegra
Publicação: Maíra Paschoal
Revisão: Daniela Gama @danirgama
Supervisor: Gabriel de Souza Silva (@gabrielssilva_psi)
Imagem: internet
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