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O Apagamento da História Preta no Brasil

Foto do escritor: ligapsisocial9ligapsisocial9




A fim de compreendermos o apagamento da história preta no Brasil, voltemos à época do “descobrimento”, em que os povos indígenas foram exterminados por não cederem à escravidão e assim, negros africanos foram deportados para cá, onde a cultura e as crenças europeias lhes foram impostas, através do batismo ao catolicismo e da perseguição aos cultos africanos pela Igreja Católica e pela polícia, já no período escravocrata do País. A cultura preta foi silenciada, bem como a população preta colocada em posição inferior, servindo àqueles que lhes tiraram de suas terras e se utilizaram de força armada para manter tal subserviência. Mesmo após a abolição da escravatura, o negro se manteve como serviçal do branco, desta vez, sem correntes, açoite ou bola de ferro em suas canelas.

Ora, uma história negligenciada, contada por terceiros em fragmentos onde estamos sempre à mercê da vontade branca e de sua benevolência, certamente não nos representa e acaba por reforçar a ideia de inferioridade, já instalada em nossa sociedade. Abdias Nascimento (2019), em sua obra intitulada ‘O Genocídio do Negro Brasileiro: Processo de um Racismo Mascarado’, enfatiza:

[...] “as classes dominantes brancas têm à sua disposição poderosos implementos de controle social e cultural: o sistema educativo, as várias formas de comunicação de massas - a imprensa, o rádio, a televisão - a produção literária. Todos esses instrumentos estão a serviço dos interesses das classes no poder e são usados para destruir o negro como pessoa e como criador e condutor de uma cultura própria.”

Cabe pontuar que classe dominante, nesse contexto, não é aquela com indivíduos em maior número, e sim, quem detém o poder. Os negros sempre foram maioria e, no entanto, não escaparam da anulação sociocultural.

Nas escolas, ensina-se massivamente sobre quilombos e escravidão, porém, não se fala sobre a cultura africana (crença preta primária), que nos foi

expurgada, com sua religião, dança, língua e costumes. Fala-se muito dos “heróis europeus”, que tiraram o povo preto da escravidão, que nos devolveram a independência, nos fazendo “livres”. Liberdade essa, pautada numa servidão velada que se estende até a atualidade, seja com salários desiguais, pela maneira como o negro é costumeiramente retratado em novelas (como escravos ou miseráveis) ou por, em grande parte, estarmos empregados em cargos domésticos, tidos como inferiores (cuidador, faxineiro, motorista, governanta etc.).

A história preta vem sendo apagada através de várias vertentes, como: eugenismo, segregação, intolerância para com religiões de matriz africana, racismo (seja ele estrutural ou não). Este último, de grande impacto na vida atual do negro, por atingi-lo diretamente, interferindo na esfera psicossocial e educacional, conforme Munanga e Gomes (2020) salientam:

“Dessa forma, quanto mais a sociedade, a escola e o poder público negam a lamentável existência do racismo em nosso país, mais ele se propaga e invade as mentalidades, as subjetividades e as condições sociais e educacionais dos negros.”

Muitos pretos se “embranqueceram” e acreditam que só assim terão o seu lugar no mundo, uma vez que o ser negro tem sido criminalizado, tomando como exemplo falas corriqueiras, como denegrir e lista negra. Isso muito tem a ver com a marginalização engendrada ao negro. Algo que é reforçado no seguinte trecho do livro ‘Tornar-se Negro’ de Neusa Santos Souza (2022):

“Para o sujeito negro oprimido, os indivíduos brancos, diversos em suas efetivas realidades psíquicas, econômicas, sociais e culturais, ganham uma feição ímpar, uniforme e universal: a brancura.”.

Entender-se como preto, enxergar que somos iguais aos demais, buscar referências, encontrar e valorizar nossas raízes é primordial para retomarmos o que nos foi tirado lá atrás, que não se resume a uma cultura, mas que nos define enquanto povo. A partir dessa identificação, poderemos reescrever nossa história, de maneira fidedigna e condizente com quem de fato fomos/somos.


REFERÊNCIAS


MUNANGA, Kabengele. GOMES, L. Nilma. O Negro no Brasil de Hoje. Editora Global, São Paulo, 2020.


NASCIMENTO, Abdias. O Genocídio do Negro Brasileiro: Processo de um Racismo Mascarado. Editora Perspectiva Ltda., São Paulo, 2019.


SOUZA S., Neusa. Tornar-se Negro. Editora Schwarcz S.A., Rio de Janeiro, 2022.


Artigo: Gabriela Toledo Dias

Publicado: Fanie Amaral

Revisão: Daniela Ramela Gama

Imagem: Internet


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