No contexto social brasileiro, discutir sobre transexualidade envolve confrontar uma série de preconceitos e resistências que persistem em invisibilizar, demonizar e marginalizar essa população. No entanto, há sinais encorajadores de mudança na psicologia e nos direitos humanos em relação a essa comunidade, incluindo o reconhecimento da existência das crianças trans e seu direito de iniciar o processo de identificação e auto-reconhecimento desde cedo.
Para compreender melhor, é fundamental definir o que é uma pessoa transexual. A transexualidade representa uma das muitas formas de identidade de gênero, caracterizada pelo fato de uma pessoa identificar-se com um gênero diferente daquele atribuído a ela no nascimento ou com base em sua genitália. Por exemplo, alguém designado como do gênero feminino ao nascer pode, ao longo da vida e muitas vezes já na infância, identificar-se com o gênero oposto (masculino). tornando-se assim um homem trans. Em um estudo conduzido por Kennedy (2008), apontou-se que, em média, as pessoas transexuais começam a ter consciência de sua identidade de gênero por volta dos 8 anos de idade. Além disso, constatou-se que mais de 80% das pessoas trans percebem sua identidade de gênero antes mesmo de concluírem o ensino fundamental.
A compreensão da transexualidade infantil requer uma abordagem sensível e cuidadosa, considerando tanto os aspectos psicológicos individuais quanto o contexto social e familiar em que a criança está inserida. É essencial reconhecer que a identidade de gênero é uma construção complexa e fluida, influenciada por diversos fatores, como aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais.
Os profissionais da psicologia desempenham um papel fundamental no apoio às crianças e suas famílias que enfrentam questões relacionadas à transexualidade, oferecendo orientação, apoio emocional e informações precisas e atualizadas sobre identidade de gênero e desenvolvimento infantil.
É importante reconhecer que o processo de compreensão e aceitação da identidade de gênero de uma criança pode ser desafiador para as famílias, especialmente em culturas com normas rígidas de gênero. Nesses casos, os profissionais de saúde mental devem fornecer um ambiente de apoio e compreensão, auxiliando as famílias a entender e aceitar a identidade de gênero de seus filhos.
Além disso, a discussão sobre transexualidade infantil levanta questões importantes sobre políticas públicas e direitos humanos, incluindo o acesso a cuidados de saúde adequados, proteção contra discriminação e garantia de direitos básicos, como o direito à identidade e expressão de gênero.
É crucial que a sociedade como um todo esteja aberta ao diálogo e à educação sobre a transexualidade infantil, promovendo um ambiente inclusivo e respeitoso para todas as crianças, independentemente de sua identidade de gênero. Ao reconhecer e valorizar a diversidade de identidades de gênero, podemos contribuir para a criação de um mundo onde todas as crianças possam crescer e se desenvolver plenamente, livres de discriminação e preconceito.
Referências:
FERREIRA, Daniele da S. CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DE GÊNERO: reflexões em contexto escolar. Portal dos Psicólogos, [S. l.], p. 1-61, 27 maio 2018. Disponível em: https://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0439.pdf. Acesso em: 20 mar. 2024.
KENNEDY, Natacha. Transgender children: more than a theoretical challenge. University of London, Inglaterra. Revisão de conteúdo por Jaqueline Gomes de Jesus. UnB, DF. Traduzido por Valéria Amado. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/cronos/article/download/2151/pdf. Acesso em: 20 mar. 2024.
MONTEIRO, Felipe S. C. T. et al. Transexualidade infantil na Psicologia: uma revisão bibliográfica. Mangaio Acadêmico, Maranhão - Brasil, v. 2, p. 1-8, 1 dez. 2017. Disponível em: https://estacio.periodicoscientificos.com.br/index.php/mangaio/article/view/1583. Acesso em: 20 mar. 2024.
PENA, Elis. O que é Transexualidade?.Instituto de Psicologia Harmonie, Brasil, p. 1-1, 28 nov. 2019. Disponível em: https://www.harmonieinstituto.com.br/o-que-e-transexualidade/. Acesso em: 20 mar. 2024.
Artigo: Edgard Varis
Publicado: Danyela Silva
Revisão: Amanda Gagliotti
Imagem: Internet
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